As pessoas não se sentem esgotadas da mesma maneira, por isso, é preciso identificar que tipo de burnout está sofrendo para lidar melhor com a condição; também é importante entender a diferença entre burnout e depressão

Durante muito tempo, acreditou-se que os trabalhadores reagiam da mesma forma ao estresse crônico e cansaço extremo.
Mas, conforme foi-se descobrindo mais sobre o problema, o que se percebeu foi que essa condição, chamada mais tarde de burnout, se manifesta de maneira diferente para cada um.
1. Burnout por sobrecarga
Tipo mais comum, o burnout por sobrecarga ocorre quando a pessoa trabalha cada vez mais freneticamente para alcançar o sucesso e, muitas vezes, em detrimento de sua saúde e vida pessoal. Segundo Wilding, geralmente afeta funcionários altamente dedicados que se sentem obrigados a trabalhar em um ritmo insustentável.
Sinais a serem observados:
- Ignorar as próprias necessidades ou vida pessoal para atender às demandas de trabalho.
- Investir mais do que é saudável no compromisso com a carreira ou ambições.
- Colocar em risco o bem-estar pessoal para atingir os objetivos.
Em segundo lugar, é crucial separar a autoestima do trabalho.
“Consequentemente, aprendendo a manter uma certa distância do trabalho, os indivíduos poderiam evitar o envolvimento excessivo e evitar o esgotamento”, apontaram os pesquisadores Jesús Montero-Marín e Javier García-Campayo.
2. Burnout subdesafiado
O burnout subdesafiado pode ser considerado o oposto do subtipo de sobrecarga. Ele ocorre quando o profissional está entediado e não é estimulado pelas suas atividades, o que leva à falta de motivação. Quem passa por esse processo, tende a perder a paixão, a se tornar cínico e letárgico e a praticar a evitação, distração, dissociação ou supressão de pensamentos.
Sinais a serem observados:
- Tem o desejo de trabalhar em tarefas que são mais desafiadoras.
- Sente que o trabalho não oferece oportunidades de desenvolver suas habilidades.
- Acredita que seu papel atual está prejudicando a sua capacidade de avançar e desenvolver seus talentos.
Quando a pessoa está entediada e desmotivada, é difícil que se preocupe com muita coisa. Neste caso, a recomendação de Wilding é explorar a curiosidade.
“Estabeleça uma meta para aprender uma nova habilidade nos próximos 30 dias para impulsionar sua motivação. Comece pequeno e não se sobrecarregue. Talvez você passe uma ou duas horas por semana aprendendo a programar ou dedique 20 minutos por dia praticando um novo idioma”, aponta.
Ela acrescenta que, mesmo que a habilidade não esteja diretamente relacionada ao trabalho em si, o funcionário provavelmente descobrirá que a energia positiva transborda para revigorar a paixão pelos afazeres profissionais ou inspirará a seguir em uma nova direção na carreira.
Além disso, é importante tentar modelar o trabalho para que se torne mais significativo, ou seja, transformar o trabalho que se tem no que se deseja ter.
O burnout por negligência ocorre quando o indivíduo não recebe estrutura, direção ou orientação suficientes no local de trabalho. Neste cenário, pode ter dificuldade para acompanhar as demandas ou se sentir incapaz de atender às expectativas, e aí, com o tempo, isso faz com que se sinta incompetente e frustrado.
O funcionário desgastado lida com o desamparo aprendido, que ocorre quando uma pessoa se sente incapaz de encontrar soluções para situações difíceis, mesmo quando elas estão disponíveis.
Sinais a serem observados:
- Parar de tentar quando as situações de trabalho não saem como planejado.
- Desistir em resposta a obstáculos ou contratempos que enfrenta no trabalho.
- Se sentir desmoralizado quando se levanta de manhã e tem que enfrentar outro dia de trabalho.
Para enfrentar o problema, a indicação é encontrar maneiras de recuperar o senso de agência em relação à sua função.
“Tente criar uma lista de coisas a não fazer. O que você pode tirar da sua lista terceirizando ou delegando? Um ótimo lugar para começar é identificando situações em que você sente uma intensa sensação de ressentimento. Esse é um sinal emocional de que você precisa estabelecer limites mais saudáveis”, diz Wilding.
Da mesma forma, considere conversar com o chefe sobre a carga de trabalho, para saber se as suas prioridades estão de acordo com as dele, entender o que ele gostaria que fosse modificado e, também, expor as suas necessidades.
Por fim, concentre-se no que pode controlar.
“Fora do horário de expediente, seja otimista quanto ao autocuidado. Crie rotinas e rituais que o fundamentem, como uma caminhada diária ou fazer registros em um diário. Quando você se sente impotente com a mudança de maré no trabalho, alguma aparência de previsibilidade é essencial”, afirma a coach executiva.
Como distinguir entre burnout e depressão
Essas duas condições podem facilmente ser confundidas por quem não é especialista.
Mas, apesar de haver sintomas comuns nas duas, são um tanto diferentes.
Angela Neal-Barnett, professora de psicologia da Kent State University e autora de “Soothe Your Nerves: The Black Woman’s Guide to Understanding and Overcoming Anxiety, Panic and Fear” (“Acalme seus nervos: O Guia da Mulher Negra para Entender e Superar a Ansiedade, o Pânico e o Medo”), explicou em entrevista ao jornal The New York Times que o conceito de burnout vem da psicologia do trabalho.
Sendo assim, os funcionários podem ficar esgotados quando sentem que não têm controle sobre suas vidas cotidianas e estão atolados nas minúcias de suas tarefas.
O resultado disso é um cansaço excessivo no trabalho e ressentimento em relação às atribuições e aos colegas.
Além disso, as pessoas que sofrem com essa condição podem ficar irritadas e se sentirem ineficazes e desenvolver insônia, dores de cabeça e problemas gastrointestinais.
Este ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o burnout na Classificação Internacional de Doenças, seu manual de diagnóstico, caracterizando-o como uma doença ocupacional”.
*No caso da depressão, ela é causada por uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais, sendo que, quem sofre um evento traumático, passa por uma grande mudança de vida ou têm casos do problema na família, corre maior risco de desenvolvê-la.
Indivíduos com este transtorno muitas vezes experimentam anedonia, que é a incapacidade de desfrutar de atividades que antes apreciavam.
“Você pode estar lendo um livro que adorava e passa a odiá-lo”, disse Jessica Gold, psiquiatra da Universidade de Washington.
Segundo Jeanette M. Bennett, professora associada da Universidade da Carolina do Norte que estuda os efeitos do estresse na saúde, a pessoa com burnout pode não ter energia para os seus hobbies, enquanto as com depressão podem não achar nada divertido ou agradável.
Outro diferencial importante entre depressão e burnout, de acordo com Rebecca Brendel, presidente da Associação Psiquiátrica Americana (APA), é que o esgotamento melhora quando o profissional se afasta do trabalho.
A depressão, por sua vez, não desaparece se as circunstâncias forem modificadas.
Para os dois casos, diz Jessica Gold, é imprescindível procurar um profissional de saúde mental.
No caso da depressão, é indicado dar alguns pequenos passos, incluindo fazer algum tipo de atividade física e ligar para um amigo.
“Preste atenção no que funciona para você. Faça as coisas que realmente te ajudam a se sentir melhor nos momentos em que você se sente mal.” aconselha Gold.
Fonte:
Época Negócios – Futuro do trabalho.