Negros com hipertensão têm mais dificuldade em tratar a doença do que brancos, aponta Unicamp

Resultado alcançado nos EUA condiz com realidade brasileira, diz cardiologista da universidade. Pressão alta é principal fator de risco entre as causas de AVC.

 

Cardiologista e pesquisador da Unicamp, Wilson Nadruz Júnior (Foto: Antoninho Perri / Unicamp)

 

A população de negros enfrenta mais dificuldades do que os brancos para conseguir tratar a hipertensão, principal doença responsável por causar acidente vascular cerebral (AVC).

A constatação foi feita por uma pesquisa da Unicamp que avaliou os principais fatores de risco.

Segundo o pesquisador, cardiologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas em Campinas (SP) Wilson Nadruz Júnior, o controle da doença é possivel, mas demanda tratamento mais intensivo.

O estudo foi feito em parceria com a Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos. Por 20 anos, de 1990 a 2010, uma população americana de 15 mil pessoas composta 30% por negros e 70% por brancos foi acompanhada para identificar a relevância da hipertensão em relação ao AVC, e resultou que a doença permaneceu como o principal fator de risco para o popular derrame, entre negros e brancos.

“O principal aspecto em relação a hipertensão é a questão da raça, a diferença bem marcante. O que a gente observou é que os negros tomavam mais remédios para hipertensão. Isso aponta que talvez essa população tenha que fazer um tratamento mais intensivo e mais agressivo da hipertensão arterial. É totalmente possível de ser controlada”, explica o cardiologista.

Outras quatro doenças também foram elencadas como contribuintes para o AVC no estudo:

  • diabetes,
  • colesterol alto,
  • tabagismo,
  • obesidade.

  

Um fator que chamou a atenção do pesquisador durante o estudo é que, ao longo dos anos, houve uma queda muito maior no número de casos de AVC provocados por pressão alta em brancos do que em negros.

Em 1990, 47% dos brancos tiveram AVC por causa da hipertensão. Em 2010, o número caiu para 20%. No caso dos negros, a queda foi de 64% para 51%, no mesmo período.

“O que já se sabe é que existe um componente genético para hipertensão arterial tanto em brancos quanto em negros. Entretanto, esse componente genético parece ser muito mais intenso nos negros. Provavelmente, imagina-se que existem conjuntos de genes que devem estar levando a isso”, afirma Nadruz.

Há estudos sendo desenvolvidos, segundo ele, para tentar identificar quais são esses conjuntos que podem estar predispondo os negros a terem pressão arterial mais alta do que os brancos.

Para Nadruz, o que pode contribuir também são as diferenças socioeconômicas, porque muitas vezes os negros podem não ter o mesmo acesso ao sistema de saúde do que os brancos e por isso, ele pode talvez não estar tendo o tratamento mais adequado. “Mas, isso é uma hipótese”, diz.

Realidade também no Brasil

A realidade também é percebida nos consultórios brasileiros, segundo Nadruz, que coordena o Ambulatório de Hipertensão Arterial do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.

O pesquisador explica que não há uma pesquisa tão longa, mas há estudos distintos que chegam a essa mesma conclusão.

“Nós sabemos, a partir de vários estudos publicados, que aqui no Brasil os negros têm mais prevalência de pressão alta, têm mais dificuldade para controlar a pressão, têm mais incidências de AVC. E, dentre os indivíduos que tem AVC no Brasil, a hipertensão é o fator de risco mais presente, tanto em brancos quanto em negros. Isso é algo que a gente enxerga no consultório todos os dias”, afirma Nadruz.

Segundo o cardiologista, é comum ter que receitar mais medicação, e até doses mais altas, para os pacientes negros, pois o organismo oferece mais resistência ao tratamento.

 

Maior sensibilidade ao sal

A pesquisa também constatou que a pressão arterial nos negros tende a se alterar mais em situações de consumo exagerado de sal, do que na população de brancos.

“A população negra não precisa entrar em pânico por achar que ela tenha talvez uma hipertensão mais difícil. A hipertensão no negro é controlável”, ressalta.

Como se prevenir

Nadruz orienta que, para reduzir o risco de AVC, é preciso se prevenir contra o aparecimento dos fatores de risco para a doença.

“Especialmente hipertensão, diabetes, obesidade, ter hábitos de vida mais saudáveis, não fumar, fazer atividades físicas regulares, e passar regularmente no seu médico para ver como está a sua saúde”, ensina. A hipertensão geralmente é assintomática, segundo o médico. Por isso, o acompanhamento deve ser constante. Você só sabe se está controlada ou não medindo a pressão. Acho que isso é um alerta para que haja desenvolvimento de políticas públicas voltadas para prevenção e controle dos fatores de risco cardiovascular, especialmente a hipertensão arterial, e particularmente na população negra”, defende o cardiologista.

Tratamento em negros precisa ser mais intensivo, segundo Nadruz (Foto: Reprodução / EPTV)
 

Veja:

https://youtu.be/qvLk93EY1y0?t=109

 

Fonte:

Faculdade de Ciências Médicas em Campinas (SP).

Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos.

EPTV – Emissora Pioneira de televisão, Campinas SP.

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