Por que ser mediano em vez de excelente também é útil no trabalho

Na nossa cultura concentrada na carreira, existe uma narrativa conhecida sobre o “superstar”. São os funcionários que se destacam pela melhor reputação e as melhores ideias; essas pessoas sempre são as primeiras da lista para aumentos salariais, promoções ou prêmios de funcionário do mês.

 

Pessoas caminhando rumo ao trabalho
Getty Images.

 

Nesta era do excepcional, é fácil olhar para cima e além como o único caminho para o sucesso.

Se você ainda não for o funcionário com melhor desempenho, a sabedoria convencional diz que você deve lutar para chegar lá.

Mas, apesar de gostarmos de pensar que somos bons no trabalho, a ampla maioria não é de trabalhadores excelentes.

Mas ser apenas competente ou “mediano” no trabalho não é algo ruim.

Nem todo trabalhador quer ser o melhor.

E, na verdade, o trabalhador mediano é essencial, talvez mais que o superstar.

Os funcionários medianos são frequentemente difamados ou até incompreendidos, segundo Paul White, psicólogo especialista na cultura do ambiente de trabalho em Kansas, nos Estados Unidos.

“Pense em qualquer curva e a maioria das pessoas está em algum lugar no meio. A maior parte dos trabalhadores é mediana e isso é bom. Você precisa ter o melhor lançador, o melhor corredor e o melhor recebedor. Mas, se você não tiver um grupo sólido de pilares e bloqueadores, as estrelas do time não conseguem ter bom desempenho. Você precisa que todos joguem para que o time seja vencedor. A importância do trabalhador intermediário não é suficientemente valorizada.” Diz.

É perfeitamente aceitável ser perfeitamente adequado

A definição mais simples de mediano, segundo Danielle Crough, psicóloga organizacional da Universidade de Nebraska, em Omaha, Estados Unidos, é um trabalhador que atende às expectativas – nem mais, nem menos.

E, embora algumas pessoas possam se destacar no meio do pacote e acabar apresentando melhor desempenho, muitos trabalhadores medianos, segundo Paul White, não querem estar no topo da pirâmide.

“A realidade é que muitas pessoas não querem ser estrelas. Eles têm família, filhos e outras coisas acontecendo na vida. Eles não querem mais responsabilidade no trabalho. Nem tudo é sobre excelência no trabalho. Alguns subirão, alguns irão descer e outros ficarão no meio.” Diz Paul.

Mas ser intermediário, segundo Crough, não quer dizer que a carreira do funcionário se estagnou, nem que as suas habilidades pararam no tempo.

“Na verdade, pode ser um indicativo de que eles atingiram seu ponto ideal”, afirma ela.

E, embora a cultura profissional glorifique os superfuncionários, White explica que é perfeitamente aceitável ser perfeitamente adequado.

O papel do trabalhador mediano é essencial para manter a empresa funcionando.

Os funcionários medianos têm valor imenso para os empregadores, pois essas pessoas que fazem o trabalho diário, possibilitam que um pequeno grupo de trabalhadores cresça e vá além.

“Os trabalhadores medianos comparecem, seguem as instruções e tentam avançar. E um funcionário como esse é precioso: eu construiria uma equipe permanente com essas pessoas”, afirma ela.

Falta de reconhecimento

Mesmo que o trabalhador deseje apenas cumprir com as atribuições de um emprego, os empregadores nem sempre recompensam a permanência nesse chamado ponto ideal.

Em uma cultura de excepcionalidade, fazer o que é esperado não é considerado uma conquista.

E isso é um grande problema, pois a falta de reconhecimento pode rapidamente levar alguém a sentir-se desvalorizado, até fazer com que os trabalhadores deixem os seus empregos.

“A maioria das organizações e empresas tem alguma forma de programa de reconhecimento dos funcionários. O problema, segundo ele, é que elas tendem a homenagear um grupo de funcionários muito pequeno”. Afirma White.

Uma das coisas que sabemos é que esses programas de desempenho e reconhecimento tendem a atingir apenas os 10% ou 15% superiores de qualquer grupo, que são as estrelas.

Isso deixa de fora um grande grupo intermediário – 50% ou 60%”, estima ele, cujas contribuições passam sem nenhum reconhecimento, porque eles não são excepcionais.

“O problema real é que quase 80% das pessoas que se demitem voluntariamente mencionam falta de reconhecimento como um fator importante”, segundo White.

Esse número é a conclusão de um estudo do Instituto OC Tanner, que também demonstrou que 65% dos norte-americanos afirmam que não foram reconhecidos no trabalho no ano anterior à pesquisa.

Para Crough, essa falta de reconhecimento do funcionário mediano parece ser uma das causas da atual Grande Renúncia – a tendência que levou um número recorde de trabalhadores norte-americanos a deixar seus empregos durante a pandemia de covid-19.

“As pessoas não estão se sentindo valorizadas. As empresas que dizem olá, estamos prestando atenção, nós valorizamos você, apreciamos o que você está fazendo são as que não estão perdendo seus funcionários. Mas, quando o seu patrão não cumprimenta você desde 2016 e um recrutador de outra empresa liga e diz: achamos que você é ótimo e queremos você aqui, você vai se animar.” afirma Crough.

O novo significado de sucesso

Reconhecer a contribuição dos trabalhadores medianos não é bom apenas para esses próprios funcionários é também fundamental para os empregadores.

Fazer com que os funcionários medianos continuem incentivados a bordo sustenta literalmente a atividade das empresas, pois esses trabalhadores mantêm as operações do dia-a-dia funcionando.

“Nesta economia (em referência ao mercado de trabalho dos EUA), você não consegue encontrar substitutos. Por isso, manter a sua equipe é fundamental para a empresa continuar a funcionar de forma eficiente. E, para isso, as empresas precisarão mudar a forma de reconhecimento dessas pessoas e a medida para definir o que é um bom trabalho. Acrescenta White.

Os funcionários que atendem às expectativas sem excedê-las não estão apenas fazendo o mínimo, segundo Crough.

Eles estão fazendo exatamente o que se espera que elas façam e isso merece reconhecimento.

“Fazer o que se espera que você faça é muito especial. O trabalhador que é consistente e sempre comparece é muito valioso e precisamos dar a ele ainda mais crédito atualmente.” Diz.

Para Crough, o desempenho médio deve também ser celebrado.

Prêmios e honrarias não são apenas para os que excedem as expectativas.

“Devemos criar prêmios para atributos como desempenho constante. Seria útil ter maior reconhecimento desses atributos. É como a criança na escola que ganha o prêmio de comparecimento: precisamos de uma versão desse prêmio para o ambiente de trabalho”. Diz.

Além de reconhecimentos adicionais como prêmios, Crough afirma que também é importante garantir que esses trabalhadores que fornecem desempenho consistente, mesmo que inalterado, sejam reconhecidos de outras formas.

“Não vincule aumentos salariais a promoções. Continuar a aumentar salários e conceder bônus a pessoas em trabalhos intermediários é uma boa medida. Também falo muito aos líderes para agradecer, sem esquecer aquelas coisas que parecem ser básicas. Precisamos ser conscientes e fazer com que as pessoas saibam que recebem atenção como seres humanos e que seus esforços são reconhecidos”, prossegue Crough.

Reconhecer o trabalhador mediano, para White, é uma das melhores saídas para uma empresa enfrentar a Grande Renúncia sem perder membros fundamentais da sua equipe.

As companhias e os líderes que compreendem o valor dos seus trabalhadores no dia-a-dia e dedica atenção a eles, estão entre os mais bem-sucedidos, não apenas do ponto de vista da rentabilidade, mas também do ponto de vista da manutenção das pessoas e de uma cultura positiva.

Fonte:

BBC Brasil.

Mundiblue.

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